O Vale do Ruhr, na parte ocidental da Alemanha, importante região industrial da Europa, foi dominado por minas de carvão e siderúrgicas desde a segunda metade do século XIX até o final do século XX. Ao longo de décadas, a região se transformou em um aglomerado com muitas indústrias de diferentes segmentos.
A mineração na região teve inicio na porção sul do Vale do Ruhr, onde o carvão é exposto nos afloramentos carboníferos superiores. No século XIII, o carvão era extraído em poços rasos e posteriormente em galerias primitivas. A utilização de shafts começou no século XVIII, antes mesmo da invenção do motor a vapor que permitiu o bombeamento nas minas de carvão, possibilitando assim a lavra em maiores profundidades.
A partir de então, o Vale do Ruhr passou de uma área rural para a famosa região industrial, com suas minas de carvão, com o desenvolvimento de ferrovias e barcos a vapor, bem como o estabelecimento de usinas siderúrgicas na segundo metade do século XIX. Ao mesmo tempo, a mineração de carvão se moveu gradualmente para o norte, na parte central da planície de inundação do rio “Emscher”, já alcançando o rio “Lippe” no norte do Vale do Ruhr.
Durante quase 200 anos o Vale do Ruhr, permaneceu sendo o centro industrial da Alemanha e uma das regiões industriais mais importantes do mundo.
A história de Zollverein está intimamente ligada ao nome Franz Haniel. O metalurgista e proprietário da mina de carvão de Ruhrort adquire, em 1840, os primeiros direitos minerais no local, sendo que na área de Zollverein são encontrados corpos minerais de maior potência.
O empresário é também sócio da empresa Jacobi, Haniel & Huyssen, que mais tarde se tornara a Gutehoffnungshütte, o maior fabricante de máquinas e instalações da Europa. A empresa produzia quase tudo o que a industrialização precisava: motores a vapor e navios, locomotivas, trilhos e pontes. E para isso ela precisa de carvão. Em 1847, o Sr. Franz Haniel e seus oito filhos eram os únicos donos da área, que totalizava 13,8 quilômetros quadrados, e que eles chamaram de “Zollverein”. A família Haniel continuou sendo a única proprietária da Zollverein até 1920.
Em 1920, a família Haniel da Zollverein formou um grupo de negócios com a Phönix AG com o foco em mineração e metalurgia. Em 1926, a Phoenix AG, e com ela a Zollverein, foi incorporada ao maior grupo de mineração da Europa da época, a Vereinigte Stahlwerke AG.
Todo o complexo de minas de Zollverein foi modernizado na década de 1920. O destaque da reforma planejada é o novo eixo central, que foi projetado pelos arquitetos Fritz Schupp e Martin Kremmer, que mais tarde se tornariam os arquitetos industriais mais importantes da Alemanha.
Após 1920, a mecanização da mineração e, especialmente, a demanda por energia e aço, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, levaram à maior produção de carvão da história do Vale do Ruhr em 1939 (130 Mt) e a um número total de 151 minas de carvão na região. Até a década de 1950, o carvão mineral permaneceu como a fonte dominante de energia e também se tornou uma matéria-prima importante para a indústria química. Após a Segunda Guerra Mundial, a produção de carvão aumentou rapidamente e atingiu seu auge em 1956 (124 Mt).
Devido à competição de petróleo e gás no mercado de energia, a mineração de carvão no distrito de Ruhr teve grande retração a partir do início dos anos 1960. Somente em 1964, 13 minas foram fechadas em Essen, o número de mineiros diminuiu de 54.413 (1958) para 9.771 (1978).
A IMPORTANCIA DA MINA ZECHE ZOLLVEREIN NAS GUERRAS
Além de ter sido uma matéria prima fundamental para a economia mundial a partir da Primeira Revolução Industrial, quando a máquina a vapor passou a ser utilizada na produção manufatureira, o carvão também teve grande importância durante as grandes guerras.
O carvão, terá espaço na matriz energética da Alemanha, sobretudo no que se relaciona às bases militares do país, e desempenhará papel fundante tanto no período que precede a eclosão da Primeira e da Segunda Guerra Mundial quanto no curso do conflito, em que a obtenção e manutenção de fontes do recurso se mostrarão objetivos de alta prioridade.
Durante as guerras a produção de carvão da mina de Zollverein se destaca principalmente como fonte para a produção de aço, armas e munições, sendo matéria prima essencial tanto na indústria energética quanto na indústria siderúrgica.
Em 1914, as vésperas da primeira guerra mundial, a Zeche Zollverein expandiu as suas estruturas criando novos eixos de extração e novas coquerias colocadas em operação. Neste ano, a produção de carvão chegou a cerca 2,5 milhões de toneladas.
O FECHAMENTO DA MINA DE ZECHE ZOLLVEREIN
A mina de Zollverein operou até o ano de 1986, produzindo cerca de 240 milhões de toneladas de carvão mineral. Para alcançar esta marca, a lavra era realizada pelo método Longwall e chegou a ser operada por mais de 8 mil mineiros dia e noite em condições extremas.
O Fechamento da Mina de Zollverein envolveu um grande esforço de descomissionamento de máquinas e equipamentos. Um dos principais desafios do fechamento de mina envolveu o plano de drenagem da área e a ampliação das estações de bombeamento.
Desde meados do século XIX, a método de lavra subterrânea Longwall foi introduzido no distrito de Ruhr. Este método é indicado para a lavra de corpos com grande extensão lateral e uma espessura constante.
O Longwall representa um dos métodos mais seguros para mineração em grandes profundidades, tendo como principal vantagem permitir a subsidência controlada, que pode ser pré-avaliada com precisão em termos de magnitude, efeitos e duração. A aplicação deste método é a razão da extensa subsidência observada no Vale do Ruhr.
A mineração de mais de 200 milhões de toneladas de carvão em Zollverein fez com que o nível da superfície da terra diminuísse em mais de 25 metros em algumas áreas. Além disso, Zollverein está situada na zona de Emscher, onde muitas áreas pantanosas já existiam antes do início da mineração, e, a subsidência causada pela lavra piorou esses fluxos hídricos significativamente.
Assim, há aproximadamente 1000m de profundidade, é mantida em operação uma estação de bombeamento central, que, bombeia para a superfície cerca de 1.200 m³ de água da mina todos os dias. Este processo ocorre de maneira análoga em diversas outras minas da Vale do Ruhr; aproximadamente 38% da bacia hidrográfica de Emscher e 15% da bacia hidrográfica de Lippe são drenadas artificialmente. Se as estações de bombeamento nessas áreas fossem fechadas, a maior parte do distrito de Ruhr seria inundada
Em Zollverein, a utilização futura do espaço foi amplamente discutida com a sociedade, que decidiu por tombar e conservar o local com o intuito de manter as instalações que documentam o processo de produção, como os mineiros trabalhavam e viviam.
Atualmente, o conjunto arquitetônico construído na Mina de Zeche Zollverein demonstra que a transição da indústria para a cultura foi realizada com maestria. Após o tombamento, todo o fechamento de mina foi transformado em um grande palco que mantém viva a história da mineração e do desenvolvimento da arquitetura industrial.
Os roteiros culturais, os conjuntos arquitetônicos e toda a história retratada dentro do Complexo da mina de Zollverein podem ser conhecidos em nosso artigo “Complexo da mina de carvão Zollverein: a transformação de um fechamento de mina em um grande conjunto arquitetônico”, onde contamos um pouco sobre a incrível experiência cultural proporcionada no local.