A descoberta do nióbio data de mais de 200 anos, seu nome é uma referência a deuses gregos e sua fama cresceu notavelmente com o avanço da narrativa do, à época deputado federal, presidente Jair Bolsonaro.
O protagonista da discussão aqui é o Nióbio, elemento de número atômico 41 na tabela periódica e com concentração crustal média igual a dos elementos Lítio e Nitrogênio, cerca de 4 mil vezes maior que o Ouro, como registrado na tabela do Handbook of Chemistry and Physics, 85 Edition.
Primeiramente batizado de columbium, em 1801, pelo seu descobridor Charles Hatchett, fazendo referência ao local de coleta da amostra, Estados Unidos, que à época ostentava o nome popular de Columbia, derivado do nome de Cristóvão Colombo.
Depois de ser confundido com o tântalo, somente em 1846 Heinrich Rose comprovou que os elementos eram diferentes. Enquanto o nome columbium ainda foi mantido por alguns pesquisadores, outros adotaram o nome nióbio em referência a Níobe, filha de Tântalo na mitologia grega.
Seu primeiro uso e descoberta
O primeiro uso industrial do Nióbio foi para a produção de filamentos de lâmpadas, até o tungstênio assumir o posto principal. Quando a indústria siderúrgica se aproximou da conclusão de que era interessante misturar pequenas porções de nióbio ao ferro, a busca por reservas de volume considerável se tornou pujante.
Foi na década de 1960, em Araxá, que a primeira descoberta aconteceu. De uma parceria entre Walther Moreira Salles e a Molycorp nasceu a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).
Após a compra gradual da parcela da Molycorp pelo Grupo Moreira Sales, a empresa abriu seu capital para a entrada de um grupo de fabricantes de aços e para um consórcio nipo-sul-coreano.
Qual a posição do Brasil hoje?
Detendo cerca de 98% dos depósitos de nióbio em operação no mundo, o Brasil é seguido por Canadá e Austrália. Em estatísticas do Anuário Mineral Brasileiro de 2017, produzindo ainda pelo antigo DNPM, agora ANM, as reservas brasileiras somam 842 milhões de toneladas.
Com 75% desse total em Araxá, outros 21% estão em depósitos não comerciais na Amazônia e 4% em Catalão, nas operações da CMOC, subsidiária da China Molybdenum.
Mas se temos as maiores reservas, a maior mina produtora, o detentor do melhor processo para obtenção de nióbio metálico de alta pureza, o que impede a geração de renda a partir desse recurso natural?
A seguir apresentamos alguns mitos e verdades sobre o Nióbio, relacionados a:
- O valor e produção;
- A raridade;
- Exclusividade e aplicações;
- Cobiça mundial – extração simples, processamento caro;
- Arrecadação pela Codemig;
- Contrabando e ligação com tântalo na Amazônia;
O valor e a produção do nióbio
Com preço médio de US$ 40 / quilo, um dos mitos sustentados é que o metal esbranquiçado é mais valioso que o ouro, o que é de longe uma falácia, uma vez que o ouro atinge os US$ 40 000 / quilo.
A limitação de absorção do mercado faz com que o valor do nióbio não tenha sofrido variações tão bruscas na última década, e isso se dá também porque o ferronióbio não é uma commodity. Seu valor não é negociado na Bolsa de Valores, mas estabelecido pela demanda global, bastante estável também na última década e em torno de 110 mil toneladas anuais. Se a procura não cresce, o preço também não tende a aumentar.
Suas aplicações tem um baixo consumo do material para atingir o objetivo e ganho de desempenho necessários, um exemplo típico é que com a adição de apenas 300 gramas de nióbio uma tonelada de aço automobilistico se torna mais resistente e leve, como mostrado no texto “O polêmico nióbio” de autoria conjunta da Fapesp, Poli-Usp e Unicamp.
E sua raridade?
Outra afirmação amplamente divulgada é: o nióbio é extremamente raro e único. Bom, do ponto de vista geológico não, porém, do ponto de vista tecnológico, sim.
Geologicamente, como foi supracitado, o nióbio tem concentração média na crosta terrestre próxima de elementos comuns, como o nitrogênio e isso faz com que ele não seja raro para a natureza.
Além disso, são conhecidos pelo menos cerca de 90 complexos de carbonatitos com gênese similar ao depósito da CBMM, e desses, mais de 50 com dados publicados na literatura em relação aos seus recursos de nióbio.
Do ponto de vista tecnológico e econômico, a posição da jazida, o corpo mineral mais raso, portanto o baixo custo de lavra, e os altos teores encontrados no Brasil, tornam a condição das reservas brasileiras raras/excepcionais.
Ademais, boa parte dos minerais portadores do elemento não tem rota tecnológica estabelecida que permita seu aproveitamento. Já a rota de tratamento do pirocloro, principal mineral portador do nióbio nas reservas brasileiras, é de domínio nacional, sendo a CBMM a responsável por abastecer esse nicho de consumo da indústria.
Assim, a combinação de reservas em posição e condição favorável, altos teores e o domínio de uma rota de alto desempenho para o beneficiamento e metalurgia criam uma condição de excepcionalidade do nióbio nacional sob a ótica de mercado.
Exclusividade
Outro ponto importante a se ressaltar é que as propriedades adicionadas ao aço obtidas com a adição de nióbio podem ser também obtidas com adição de outros elementos como titânio e vanádio. Assim, com um aumento exacerbado do preço do nióbio estas opções passariam a ser mais competitivas economicamente.
A estratégia de não condicionar o desenvolvimento de determinadas tecnologias de uma nação ao fornecimento de um insumo que tem um único fornecedor é um fator geopolítico crucial para o entendimento do mercado internacional do nióbio. Ou seja, diversos países têm optado por desenvolver tecnologias e aplicações para outros elementos substitutos ao invés de se colocarem em uma posição de dependência de fornecimento do Nióbio.
Exemplos como o vanádio da África do Sul e Rússia, e o titânio da Índia, Canadá e Nova Zelândia, destacam países que optaram por explorarem suas próprias reservas, a ficarem expostos ao risco de fornecimento do Nióbio.
Recentemente, tal risco já foi experimentado no cenário internacional mineral com os cortes de fornecimento de Elementos Terras Raras pela China.
Aplicações
Os principais produtos produzidos pela CBMM e suas aplicações são a liga de ferronióbio, com 65% de Nióbio e 35% de Ferro, com aplicação direta na siderurgia.
Os óxidos de nióbio são empregados na fabricação de lentes de câmeras fotográficas, baterias de veículos elétricos e lentes para telescópios. Já as ligas de nióbio de grau vácuo, com elevado nível de pureza, são aplicadas na produção de turbinas aeronáuticas, motores de foguetes e turbinas terrestres para geração de energia elétrica.
Por fim o nióbio metálico é utilizado em fios supercondutores que equipam tomógrafos, aparelhos de ressonância magnética e até mesmo com participação no LHD – tão famoso acelerador de partículas do CERN.
O produto final de nióbio metálico são cilindros maciços compostos por 99% do metal, e nessa pureza este tem propriedades supercondutoras e elevada resistência à corrosão, apresentado por Tadeu Carneiro, presidente da CBMM, no painel de 2016 que pode ser consultado em link ao final do texto.
A cobiça mundial
De fato o Nióbio é cobiçado mundialmente por ser um mineral estratégico, uma vez que pode conferir um incremento de resistência considerável ao aço, garantindo assim a mesma confiabilidade utilizando lâminas e materiais de aço mais finos, logo, mais leves e por fim mais eficientes nos sistemas de transporte e aproveitamento energético.
A arrecadação do estado via CODEMIG
A CODEMIG possui um acordo de divisão de dividendos junto à CBMM pelo arrendamento de suas áreas em Araxá para a companhia. O acordo garante que o estado fique com 25% do lucro líquido da CBMM, recebidos através da estatal. Devidos às dificuldades financeiras vividas no momento atual, o estado colocou em pauta a privatização da estatal e o adiantamento dos recebíveis do lucro do acordo.
No ano de 2018 o estado de Minas Gerais recebeu R$ 900 milhões da operação, enquanto a arrecadação federal da CFEM foi de R$ 22 milhões.
A extração na Amazônia
Por fim, é também um fato a ocorrência de contrabando de nióbio e tântalo da Amazônia por meio dos aeroportos clandestinos nas rotas das madeireiras ilegais. O nióbio é encontrado junto ao tântalo no mineral columbita-tantalita, tipicamente extraído nos garimpos da Amazônia.
Dúvidas ou sugestões, entre em contato com a gente: contato@sagaconsultoria.com
Acesse também os links de referência do artigo:
https://www.quimlab.com.br/guiadoselementos/abundancia_elementos.htm
https://adrianachiarimagazine.net/blog/2019/6/28/niobio-mitos-e-verdade
https://g1.globo.com/natureza/blog/andre-trigueiro/post/2018/12/18/o-mito-do-niobio.ghtml
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/06/28/niobio-comercio-limitado-monopolio.htm